Um desconforto


Olho pra mim e logo percebo que estou longe de ser a pessoa que eu preciso ser. Olho em volta, olho além das mesmices de um dia-dia anormal e tão normal que chega a ser chato. É ruim viver num tema e dilema único: Amanhecer, lutar, inventar, suar, ganhar, ter para viver a fim de sobreviver... Nessa coisa batida, nessa vida mal vivida, encurralada pela sagacidade desses novos tempos onde o tempo hoje nos concede menos tempo para aprender. Estamos na era da balança de posses. Temos que encher um lado da balança de bens e coisas e poder e tudo... Para o outro lado onde estamos, suba e nós só assim nos evidenciamos nos mostramos não pelo que somos, mas maquiados pelo que temos. Estamos malfadados pela esquisitice desses tesouros que as traças consomem e os ladrões roubam.


Ah... Há poucos dias fui apresentado a uma pessoa! Mas acreditem que não lembro o nome dela. Mas lembro muito bem o que ela é e tem... “Calvet, esse é fulano, filho de cicrano que é dono de uma grande empresa de logística no Sul e têm dois aviões a disposição, quatro pajeros na garagem, só faz compras na Europa, tem uma lancha um Helicóptero e etc... etc...” Eu nem ao menos lembro se disse: “muito prazer”. Afinal essa pessoa já tinha posses de prazer demais para se preocupar com a minha filantrópica educação.


Inverteram-se os valores ou será que esses valores nunca na verdade existiram? Mas que valor é este a ser agregado ao meu caráter? será o mesmo valor que eu quero que agregue àquele que está próximo de mim? Não posso ser egoísta e dono da verdade que tenho como verdade. Não posso ser estranho e diferente dessa sociedade que me empurra nessa fileira de favelados de alma, tão pobre de nobres sentimentos, cadáveres revés de pútrida honra, rostos de sorrisos do teatro da hipocrisia... Diferentes? Somos assim? Ou disfarçamos bem? Nem disfarçamos. Isso já faz parte do nosso caráter mal lapidado.


O mundo hoje gira em torno do seu próprio eixo. Esse movimento cíclico gera abstinência de sentimentos ainda necessários à vida, ao homem... Até mesmo à criatura criada à imagem e semelhança do criador. Mas o criador vê-se impressionado com o uso do livre arbítrio dado a sua criatura. Não somos como deveríamos ser. Somos um rascunho imperfeito, fruto da nossa própria sábia ignorância, perdidos num achado de rotulações que, presumem a vida como simplesmente uma sucessão de aparências impactantes de prazer. Nunca saciados, eternamente sozinhos.


Estamos sempre ocupados demais para nos ocuparmos com a vida de quem precisa um pouquinho da nossa vida de atitudes verdadeiras. Atitudes sem plástica, atitudes descompromissadas de interesses, atitudes sem pressão para doar-se; sem que seja preciso a natureza se comportar rebelde como uma enchente para nos fazer enxergar a necessidade do próximo, sem que seja preciso as epidemias, sem que uma crise nos coloque mais amenos, mais afetos a realidade da absoluta dependência do amigo, do próximo, do vizinho, do irmão. Estamos surdos pelo coração e a alma só verdadeiramente enobrece quando se sente alimentada pelos apelos audíveis que só o coração pode atender.


Pergunte a você: Onde está o teu tesouro? Onde está o teu coração? Em que consiste a tua riqueza? O que te faz ser possuidor de tudo, mesmo não tendo nada? Seríamos capazes de entender que mesmo não tendo nada, temos tudo? Nossa imperfeição se aproxima da mais perfeita estupidez. O que vemos, na realidade não possuímos, o que possuímos na realidade não temos, o que vemos que não temos é justamente isso que faria de nós a pessoa mais diferente e de uma singular riqueza do mundo. Pois a verdadeira riqueza não está no tamanho da nossa conta do banco ou na falibilidade que, os bens que possuímos dão o “aval” de poder. Um caráter são, faz do homem entre todas as espécimes ser detentor de uma vida de glórias jamais enferrujadas ou roubadas.

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