DESABAFO....

Eu vejo hoje que o presente se tornou reflexo constante do meu passado.
Vejo que lá fora o mundo se torna cada vez mais apático,
E minhas tolices impedem de ver o outro lado da rua, da vida.
Vejo hoje a solidão quente, ardendo como febre delirante em mim,
Eu vejo que meus passos errados estão perdidos e o que eu posso fazer agora é arremessá-los ao esquecimento; é isso um tormento pra mim.
Eu vejo com olhos apaixonados, um abraço apertado que exprime amor, um amor latim.
Coisas que me cegaram, agora meu espírito sereno me faz ver.
Eu vejo hoje que as coisas simples e importantes da vida são exatamente as mais desprezadas. Tornamo-nas desprezíveis pelo fato de que somos vazios. Ocos por dentro, defuntos de pé.
Eu vejo hoje que sentir saudade e sentir falta não são as mesmas coisas. Afinal saudade presume que a ausência em algum momento poderá ser finda, contudo quando se sente falta é porque lhe foi tirado um pedaço, pelas próprias mãos ou pela circunstancia feroz de algum momento.
Nem todo pedaço tirado de nós vai nos fazer sentir saudade; uma coisa é certa: Se for importante, vai fazer falta.
Eu vejo hoje que o sabor do suco que mais gosto parece amargo, o doce da vida não é a dose medida de açúcar, mas sim um pouco do nosso melhor, temperando as coisas amargas e secas da vida.
Eu vejo hoje que o tempo passa tão silencioso, imponente, frio, surdo e perfeito. Não se comove e nunca envelhece.
Eu vejo hoje meus verdadeiros amigos, amigos que muito deles nem sabe que os tenho como grandes amigos. Amigos que chego a sentir saudade por não tê-los tão próximos, às vezes. Hoje meus verdadeiros amigos, são as pessoas mais ausentes de mim, são as que mais falam de mim, são os que me julgam sem o rito adequado. Meus amigos eu careço de vê-los, muito embora os dias passem e eles parecem se tornar menos verdadeiros.
Hoje eu vejo as coisinhas de detalhes e os detalhes das coisinhas. Miúdas, comezinhas, rasgam e afogam o meu equilíbrio e me colocam num barco de vicissitudes que não queria vivê-las. Só me fazem mal.
Hoje vejo o poder fazer cair a máscara do descarado. A imundície lamear retratos de um passado não muito distante. Vejo uma nova paisagem, muito mais infeliz e hipócrita.
Hoje eu vejo uma mudança de atitude ser mais essencial que contar com a própria sorte.
Hoje eu vejo que tudo na vida é cíclico, somos verdadeiros mutantes de alma, congelamos por dentro, mas esforçamos pra manter uma aparência que não se sustenta somente com o próprio caráter.
Hoje eu finalmente vislumbro que um pedaço de mim vai sempre embora quando, nos meandros da vida, nessas agruras, o meu rosto cada segundo menos jovial, vai deixando a senil serenidade aperfeiçoar-me de dentro pra fora.
Hoje, olho pro ontem e consigo ver que nem todas as coisas que fiz foram boas, mas que certamente todas elas me permitiram subir um degrau desse duro aprendizado do viver.
Hoje... É!! hoje eu sei que é preciso começar de novo, não ser alguém notável, mas sim notar que é preciso ser alguém.
(Calvet Neto)

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